O Rei do Inverno - Bernard Cornwell - Crônicas de Artur
Este é o primeiro volume da série de três livros (O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Excalibur) das Crônicas de Arthur, escritos por Bernard Cornwell e lançado em 1995 pela Penguin Group na Inglaterra e no Brasil pela Editora Record (ISBN 978-8501-10214-0).
O livro é uma obra de ficção histórica (na medida do possível) que narra a história de Artur Pendragon, filho de Uther Pendragon, em seus primeiros anos tentando manter o reino da Dumnônia (atual região de Somerset) intacto após a morte do rei Uther. Ele se passa em aproximadamente 480 d.C. e é divido em cinco partes narradas por Derfel Cadarn, que se trata de um personagem histórico, um monge cristão celta que viveu no 6º século e é tido como santo, reinventado pela visão de Cornwell. A lenda diz que ele foi um dos guerreiros do Rei Artur, tendo supostamente nascido em 466 d.C. e morrido em 6 de abril de 560. É dito que Derfel foi um dos sete guerreiros de Artur que sobreviveram à Batalha de Camlan em 537 d.C., sendo que os outros seis sobreviveram por pura sorte e Derfel sobreviveu "somente por sua força", outros três sobreviventes também se tornaram santos.
O livro apresenta personagens onde a autenticidade histórica não pode ser comprovada, como Guinevere, Galahad, Lancelot e Merlin na visão do escritor, e eu não poderia ser mais grato a ele por descrever Lancelot exatamente como eu sempre o imaginara, um farsante que é muito bom em cativar os demais e pagar bem a bardos que cantem seus feitos. Já Artur também é retratado como o meu Artur idealizado, um homem repleto de virtudes e com um coração capaz de cativar grande parte dos homens, dotado de uma sabedoria ímpar e ao mesmo tempo uma paixão visceral em momentos chave de sua vida, sendo amado por muitos e odiado por seus rivais. Não a toa meu filho recebeu seu nome mesmo antes de eu ter lido o romance por sempre ter imaginado um Artur lendário com esse olhar. Outro que é descrito com fidelidade à minha imaginação é Galahad, um de meus guerreiros favoritos na lenda arthuriana. As vezes parece que o livro foi escrito para mim, e se um dia eu conseguisse encontrar o Sr. Cornwell, o agradeceria efusivamente, isso se não caísse em prantos antes.
Há momentos de intensa inspiração no livro, que me fizeram arrepiar enquanto lia os parágrafos e ansiava cada vez por mais. Chorei com as provações de Nimue, me emocionei quando Artur salvou o dia (e só de lembrar me arrepio) e quando Merlin surgiu por mais de uma vez em momentos inesperados, foi simplesmente de cair o cu da bunda. Há partes do livro capazes de emocionar o mais frio dos seres humanos e de torcer como uma criança por seu herói favorito em um desenho animado.
Infelizmente como quase toda obra literária escrita com primor e reverenciada pela crítica, quando cai na mão de executivos gananciosos de tv ou cinema acaba em tragédia (com exceções raras como a trilogia de Senhor dos Anéis e as primeiras cinco ou seis temporadas de Game of Thrones), com "O Rei do Inverno" não poderia ser diferente, lançada nos Estados Unidos em 21 de dezembro de 2023, a série homônima "O Rei do Inverno" (The Winter King) é uma desgraça (para não usar um termo mais chulo), tendo sido criticada exatamente pela falta de fidelidade com o livro e cancelada em setembro de 2024. Felizmente ela não chegou a ser exibida no Brasil.
Quem sabe daqui a muitos anos, quando Bernard Cornwell já não estiver mais entre nós e ele for considerado um nome ainda maior no gênero de ficção-histórica, algum roteirista/diretor apaixonado por sua obra possa conseguir o apoio de algum estúdio e fazer jus a essa obra na telona, mas infelizmente acho que eu também não estarei mais entre os vivos, afinal de contas Hollywood anda cada vez mais carente de roteiristas, produtores e diretores preocupados em contar uma boa história para a diversão dos espectadores.
É isso, quando eu terminar "O Inimigo de Deus" venho aqui contar o que achei para vocês.